Professora, Pianista e Cantora-compositora
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BIOGRAFIA
Helena Caspurro, natural do Porto, onde reside, é Professora Auxiliar do Departamento de Comunicação e Arte (DeCA) da Universidade de Aveiro (UA), investigadora integrada do INET-md e colaboradora do CESEM (Nova de Lisboa), universidade onde também leccionou. Pianista, cantora e compositora, num género de jazz e fusão, editou três CD originais, Mulher Avestruz (2003), Colapsopira (2009) e Paluí (2013), o último dos quais constitui a génese musical de projectos de investigação artística que desenvolve em contexto educativo e na comunidade portuguesa, em coautoria com Pedro Carvalho de Almeida, designer e professor no DeCA. Dos inúmeros participantes, destacam-se alunos e professores de música e design da UA, mais de seiscentas crianças das escolas básicas de Santa Maria da Feira e seus professores, bem como, concretizando objectivos sociais e inclusivos, como o combate ao estigma da doença mental, utentes e doentes do Hospital Psiquiátrico Magalhães Lemos (Porto), alunos e professores do Instituto Politécnico do Porto, do Centro de Arte e Qualidade da Infância de Aveiro e artistas da Casa da Música. Destes projectos, germinaram e foram apresentadas no país diversas obras e iniciativas, todas resultantes de processos artísticos, transdisciplinares, colaborativos e de co-criação, tais como: a edição do livro Paluí: Viagem sonoras que a Língua Portuguesa conta (2017), vídeos, oficinas, exposições, artefactos sonoros e interativos, espetáculos de música e teatro e, finalmente, o concerto musical e transdisciplinar, Paluí, está aqui? Histórias sonoras para cantos interiores, apresentado no festival Ao Alcance de Todos, na Casa da Música (2019) – editado em Documentário e Filme-Concerto (2020). A convite do Serviço Educativo desta última instituição, foi directora artística e pedagógica de concertos musicais e cénicos que criou e apresentou em ambas as suas salas de concerto (2011; 2013), e, a convite da APEM, compôs Coculi (2018) para o site Cantar Mais. Trabalha regularmente com o percussionista Brendan Hemsworth na produção do seu trabalho musical. Paulo Neto, António Miguel, Filipe Lopes são músicos com quem colabora na criação e coordenação dos vários projectos transdisciplinares e artísticos que dirigiu, juntamente com José Geraldo (ator), Patrícia Costa (figurinista), António Valente (cineasta), Marcelo Batista (projeção de imagem), António Oliveira (encenação), Carlos Silva (videoarte), Miguel Almeida e João Neto (video design). Gravou e partilhou atividade artística com vários músicos, como Elizabeth Davis, Arnaldo Fonseca, António Aguiar, Carlos Mendes, Pedro Lima Pereira, Andrés Tarabbia (Pancho), Mário Santos, Pedro Almeida, Nuno Aragão, António Miguel (Tomi), Diana Basto, entre muitos outros. A improvisação na aprendizagem musical, a que dedicou a sua tese de doutoramento (2006), é um dos objectos de eleição na orientação das matérias que ensina e desenvolve enquanto educadora e musicista. As suas actividades musicais e artísticas incluem ainda: a participação em programas de rádio e bandas sonoras de uma telenovela portuguesa; a apresentação como performer convidada no Tedx-Aveiro (2013) e, como cantora, em concertos em Portugal com a orquestra Filarmonia das Beiras; a edição de vários videoclips, em colaboração com outros autores e com o Cine Clube de Avanca, alguns dos quais foram seleccionados em inúmeros festivais internacionais de cinema, como é o caso de Navegar, nomeado em 2014 no International Children’s Film Festival em Lucknow (Índia). Espera editar a sua nova obra musical e CD, Massaiá, em 2023.
Experiências transdisciplinares de cocriação artística germinadas na música: engajando a escola e a sociedade
Cada vez mais se assume que a educação é uma construção que não pode ser desconetada da própria sociedade – sua obra, geografias e significados culturais; seu movimento contínuo; seus indivíduos e agentes que a representam e transformam, mesmo para além da escola. O comprometimento e responsabilidade de todos na complexa e inacabada tarefa são, pois, ingredientes de projetos culturais das sociedades democráticas contemporâneas, consagrando-se em iniciativas, filosofias e programas ministeriais, que exigem constante reflexão, aperfeiçoamento e criatividade. Talvez pelas mesmas razões, isto é, pelo comprometimento de todos no alcance de objetivos culturais comuns, são crescentes as visões sobre as artes enquanto objetos e espaços de construção social. As práticas participativas em arte, onde se inclui a música na comunidade, evidenciam esse fenómeno em expansão, mobilizando processos, metodologias e paradigmas de estudo que, na sua diversidade epistemológica, têm possibilitado experienciar, demonstrar, descrever e caracterizar, tácita ou verbalmente, os vastos significados de experiências realizadas. Reflexo, nos seus propósitos e modos de ação, da complexidade que caracteriza as sociedades contemporâneas, têm-se consumado num conjunto multifacetado de iniciativas dirigidas a comunidades específicas, com programas destinados a responder a problemas, também, singulares, geralmente rodeando o vasto tema da exclusão social. Os contextos educativos, como os curricula do Ensino Básico, Pré-Escolar ou Superior, suas práticas e programas, pelas necessidades não apenas de constante articulação com a sociedade cultural, como, em virtude disto mesmo, de ampliação dos conceitos de literacia em torno dos quais se desenham práticas de formação de professores, constituem, igualmente, universos de estudo e pesquisa com valor e alcance social, pedagógico e artístico.
A presente comunicação visa apresentar um conjunto de projetos germinados, com propósitos sociais e artísticos, na música da autora, e, que, plasmando-se em experiências de âmbito (co)criativo e transdisciplinar, foram criados e implementados, sob sua direção, enquanto investigadora, música e docente, e outros especialistas do Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro (UA), como o designer Pedro Carvalho de Almeida, em diferentes comunidades e universos educativos do país. Tendo envolvido um número de pessoas já próximo do milhar, dizem respeito sobretudo às pesquisas nascidas de Paluí (2013) e que, associadas à construção de objetivos culturais comuns, como o desenvolvimento dos curricula, da criação musical e transdisciplinar e o combate ao estigma da doença mental – de que resultaram a edição de um livro (2017) e, entre outros eventos, a apresentação de um espetáculo no Festival Ao Alcance de todos na Casa da Música (2019) – mobilizaram, em contexto de engajamento social, cooperativo e de cocriação artística, alunos e docentes de música e design da UA e, respetivamente: 1) comunidades de Santa Maria da Feira (alunos e professores do Ensino Básico e Pré-Escolar); 2) pacientes do Hospital de Magalhães Lemos do Porto (utentes do Serviço de Reabilitação Psicossocial), alunos e docentes de música do Instituto Politécnico do Porto, educadores e crianças do Centro de Artes e Qualidade de Aveiro e artistas da Casa da Música. Ainda que com finalidades eminentemente estéticas, mas representando uma continuidade conceptual e metodológica iniciada com Paluí, uma breve mostra de trabalhos transdisciplinares resultantes da criação musical mais recente e ainda em desenvolvimento da autora, Massaiá (2023), será, por fim, exibida. Para além da contemplação dos resultados de qualquer um destes projetos, viabilizada, mesmo que não na sua totalidade, pela apresentação de imagens, objetos e vídeos, pretende-se partilhar e suscitar reflexões críticas em torno de problemáticas como a música, as artes e a educação, sua conexão com a sociedade, destacando, na análise, o papel da criatividade, transdisciplinaridade e processos colaborativos; decorrente disto, a alteração da definição dos papéis dos próprios artistas, onde se incluem os professores de música, de forma a darem resposta aos desafios colocados pelo tipo de comprometimento social e cultural pela mesma exigidos.